De bem com a mídia

Karin Verzbickas

Ficar frente a frente com o jornalista, aceitar de boa aquela câmera vindo na sua direção e ter a resposta certa e no timming perfeito para o repórter que está ao vivo na maior emissora do país. Não, estas não são tarefas para principiantes. Nem somente para vocacionados. Claro, há aqueles poucos privilegiados que já nasceram para se comunicar, para dar entrevistas e brilhar nas telas por aí. Mas, em geral, o trabalho é mais árduo. Lidar com a imprensa é uma atividade que requer preparo técnico e um treinamento sistemático que leve a uma melhoria contínua para adquirir a segurança necessária para encarar o microfone sem medo.

Depois de mais de uma década ministrando cursos para executivos de “Media Training”, é assertivo dizer que a maior motivação das equipes acontecem justamente na hora que mostramos o que elas não devem fazer. São muitos os cases que utilizamos no treinamento para evidenciar os maus exemplos. E há oferta abundante de gafes e deslizes diante das câmeras o dia todo, em todas as mídias. Quem não se lembra da nutricionista que, durante uma entrevista ao vivo, tinha espasmos verbais ao fim de cada palavra, como se repetisse duas vezes a última sílaba. Lembram? Ficou conhecida como sanduíche-íche e ridicularizada com milhões de views no You Tube.

Tudo porque estava usando um ponto eletrônico (aquela comunicação remota e sem fio discretamente colocada no ouvido de quem está na rua para ouvir quem está no estúdio). Ocorre que o aparelho geralmente dá delay, ou seja, um certo atraso na projeção do som, e esse gap é um velho e perigoso conhecido de quem trabalha com TV. Todo repórter sabe disso. Não só compromete a dicção como pode confundir profundamente o raciocínio. Mas, se a nossa nutricionista-entrevistada tivesse sido alertada, ela agiria diferente: simplesmente arrancaria o ponto do ouvido assim que sentisse o desconforto e seguiria normalmente a entrevista. Faltou treinamento, sobrou o meme.

Em outros casos, o problema do entrevistado não é a falta de conhecimento, mas de postura. Há casos hilários de pessoas que se esquecem de desligar o celular, que resolve tocar – claro! – justamente naquela entrevista de estúdio. Ops! Ou ainda aqueles que pedem para regravar porque julgam que sua resposta não ficou suficientemente boa, mas esquecem de um pequeno detalhe: estão ao vivo! Mico total.

Mas o maior problema de quem tem o desafio de encarar a imprensa está, sem dúvida, no conteúdo. Saber utilizar bem o tempo que se tem à disposição é “ouro” numa entrevista. Para isso, é preciso fazer o dever de casa, avaliar exatamente qual é a mensagem principal que precisa ser passada aos telespectadores/ouvintes/leitores e focar nisso. Medir as consequências da sua fala, verificar se o conceito principal está contemplado. Não é qualquer um que consegue desenvolver em menos de 10 segundos (tempo médio de uma sonora em TV) toda a sua ideia de forma clara ao público. Para isso existem treinamentos.

Sabe aquele executivo que você vê na tevê dando show na entrevista quando fala dos negócios dele, usando linguagem objetiva e motivadora, mas com aquele brilho nos olhos que cativa e prende quem está assistindo? Pode apostar que existe um “media training” por trás de todo esse sucesso, com horas de laboratório prático, análise de performance e centenas de repetições até se obter a perfeição. Por isso, se a sua vontade – ou necessidade – é se comunicar melhor com a imprensa, vá em busca de ajuda profissional. Você vai economizar tempo, investir algum recurso sim, mas em contrapartida evitar qualquer desgaste da sua imagem ou prejuízo ao seu negócio.

Enquanto isso, procure adotar alguns passos que já vão fazer toda a diferença na sua primeira ou próxima entrevista:

1) Foco no objetivo – Estude o assunto antes e concentre-se para responder o que você quer dizer e não exatamente o que o jornalista perguntou.

2) Passe credibilidade – Fale com firmeza. Vá munido de números: índices e dados dão consistência a uma entrevista.

3) Seja direto – Esqueça os rodeios. Simplifique. Ensaie respostas diretas, com frases curtas e conteúdo auto-explicativo.

4) Seja elegante – Nunca discuta com um jornalista. Mantenha a calma e defenda seu ponto de vista sem confrontar.
Não subestime o jornalista – Seja didático, porém sem duvidar da inteligência alheia. Nunca diga a um repórter como ele deve fazer o trabalho dele.

5) Cuidado: o corpo fala! – O seu gestual deve estar alinhado com o que você diz. Não se traia. Sintonia transmite credibilidade.

6) Com quem mesmo eu estou falando? – Procure saber antes. Cada público exige uma forma especial e própria de conduzir a comunicação.

7) Aproxime-se do jornalista – Cumprimente e converse com o jornalista antes de começar a entrevista pra valer. Isso dará mais segurança para ambos. Mas, muito importante, não bajule!

8) Não esqueça o principal – Diga o que precisa ser dito. Faça um pré-roteiro e leve consigo, se for o caso, para servir de guia. Seu assessor de imprensa será relevante nessa missão.

9)Você no centro de tudo – Nunca esqueça que quem domina o assunto é você. Por isso, o controle está nas suas mãos. Saiba usá-lo a seu favor!

Karin Verzbickas é jornalista e diretora executiva da Fábrica de Comunicação.

0 260
Karin Verzbickas

Deixe uma resposta